Não quero fazer aqui um relato a invectivar contra a «greve geral» de
hoje, mas sinto que, não sendo «politicamente correcto», tenho o dever de exprimir o que penso sobre o uso e abuso da chamada «greve geral». Não é liquido que a greve de hoje, tenha por objectivo, a afirmação do poder por parte de Arménio Carlos. Creio que se trata tão-só, de uma contestação ao Governo. E há razões para o fazer. Se este é o momento e o meio mais eficaz para conseguir retirar proveitos a favor dos trabalhadores, é claro para mim, que não o é. Estamos a um mês de comemorar o 25 de Abril, e a pouco mais de comemorar o 1º. de Maio. E já vamos na segunda «greve geral», sem resultados práticos visiveis. Já lá vão os tempos da foice, do martelo e da bigorna. Hoje a maioria dos trabahadores sindicalizados pertence á Função Pública, pagos por todos nós. De fora ficarão cerca de 2 milhões de reformados, e 520 mil dos trabalhadores sindicalizados afectos à UGT, que não aderiu à greve geral. Mas eu pergunto: quem beneficia com esta greve? Ninguem, todos vamos ficar pior. O Govero e a Troika não vão ceder em toda a linha. Mas o direito à greve é um direito constitucional, dizem-me. Certo, mas abusar desse direito, e sem que daí advenham benefícios, leva ao desencanto, à desmobilização. «A greve pode não dar em nada, mas é um protesto que temos de fazer», disse um funcionário camarário. Sim, mas por favor, não abusem da «greve geral». A EDP, neste tempo de austeridade brutal, vai aumentar o pessoal em 1,7%... valor pago por todos nós. Será que o pessoal da EDP vai estar de greve? Na Auto-Europa, o pessoal vai receber um bónus de 950,00 euros. Pois bem, foi ali que Arménio Carlos iniciou a digressão pelos locais onde há piquetes de greve. Será que, naquela unidade industrial, existem problemas laborais? A Auto-Europa é a maior exportadora, com grande peso na balança de pagamentos. Ainde me lembro que foi o uso e abuso de greves, que levou ao encerramento da fábrica da General Motores, na Azambuja, há cerca de 6 anos. Encerrou e transferiu a produção para Espanha, deixando no desemprego cerca de 1.500 trabalhadores. Todavia, o maior efeito das greves gerais, dá-se nos transportes públicos, pagos, até agora, e em grande parte, por subsídios estatais... Ao aderirem à greve, a CP, a Refer, o Metro, a Carris e a Soflusa, arrastam uma montanha de gente para o inferno que constitui a falta de transportes públicos. Sindicalizado ou não, tenha ou não razões para aderir à greve geral, o utente dos transportes públicos è sujeito e vilipendiado nesta onda de greves. Neste tempo de austeridade e precariedade, muita gente não pode prescindir do corte de um dia de salário, por não comparecer ao trabalho. No entanto, é arrastada pelas circunstâncias da greve. O poder do trabalhador, não reside apenas na greve. Essa é uma arma antiquada, que serve a poucos. O poder está no Conselho de Concertação Social, nas políticas do Govern que tem a gestão do país. Se este não serve, há o direito à manifestação, à indignação e ao protesto -- realizados ao fim de semana ou feriados nacionais, sem pôr em causa os demais trabalhadores, as vítimas das greves (não fabris), mas da Função Pública e dos transportes, cujos funcionários são pagos por todos nós. Esta é a minha opinião sobre esta «greve geral», exarada por volta do meio-dia, antes do balanço geral que cada um fará sobre o evento.
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