Terça-feira, 20 de Março de 2012

Enquanto corre por aí uma petição destinada a criminalizar a utlização

indevida dos dinheiros públicos (uma espécie de delírio persecutório contra José Sócrates), convém anotar as seguintes situações em que o actual Governo de Passos Coelho, apesar de levar apenas nove meses de governação, poderia vir a ser penalizado criminalmente.

Primeiro: A gestão danosa do dossiê referente aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC). Esta empresa do Estado, gerida pela EMPORDEF, está práticamente inactiva há mais de nove meses. Tem uma encomenda do Governo venezuelano para construção de dois navios asfalteiros, negócio concluido no Governo PS. Os ENVC poderiam ter mais uma encomenda em carteira, se acaso estivessem a ser bem geridos. O cliente era a Duro Azul, que precisa de dois barcos-hoteis para navegar no rio Douro. Simplesmente, o Governo de Passos Coelho não tem mostrado interesse em resolver o problema, por preconceito ideológico e por não querer arriscar na indústria naval, de que Portugal foi precursor, desde os Descobrimentos marítimos. O país tem tecnologia, know-how, pessoal especializado, mas Passos Coelho não quer que o Estado se mantenha ao leme da indústria de construção naval. Este caso configura um crme de lesa-Pátria. O estaleiro está parado, às moscas, com ordenados em atraso, e sem dinheiro para comprar chapa de ferro... São precisos cerca de 3 milhões de euros para iniciar a construção dos asfalteiros para a Venezuela, e não há dinheiro para compra de materiais. É o deixa andar, de dia para dia, sem fim à vista. No entanto o Governo tinha 4,4 milhões de euros pagos em duplicado à Lusoponte, referente às portagens de Agosto, mais o valor compensatório contratual.

Há ou não há aqui gestão danosa por parte do actual Governo?

Segundo: A ministra da Agricultura, Assunção Cristas, entreteve-se no verão a exigir que o seu pessoal trabalhasse desengravatado, mas esqueceu as previsões climatéricas, e eis que agora a desgraça bateu à porta dos agricultores, por efeitos da seca, mas a ministra não tem, nem conseguiu ainda uma solução para a grave crise provocada pela falta de chuva. A ministra apenas se preocupou, inicialmente, com a sua fé, rezando a todos os santos e santinhas para nos trazerem a chuva. Não soube planear, prever, acautelar. Resumindo, pelos ventos que correm por aí, a ministra poderá vir a ser confrontada com o crime de lesa-agricultores, por ter agido tarde e a más horas, governando sem um plano de contingência para o caso de seca extrema. E, todavia a ministra tinha meios para estar prevenida: tinha os serviços nacionais de meteorologia, as previsões da Nasa, e as do professsor Karamba. Pelo que vemos, a ministra não deu ouvidos a nenhuma destas identidades, que gerem as tendências climáticas, e a previsão de secas extremas.

Terceiro: Este Governo, que optou por ser «mini», para impressionar e para poupar, continua a nomear «assessores», «técnicos», «ajudantes» e «colaboradores». Sendo o mini-ministério composto por apenas 11 ministros, houve necessidade de nomear 35 secretários de Estado, que são assessorados por uma caterva de gente intitulada tecnocratas, especialistas, conselheiros e técnicos de primeira. O ministério do Álvaro, que já não tem ponta por onde se lhe pegue, continua a ser conhecido por «ministério da Economia», mas o ministro foi espoliado de quase todas as suas competências, as quais foram distribuidas pela caterva de gente que acabei de nomear, desde simples «especialistas» até «coordenadores», como é o caso do ex-banqueiro António Borges, que dirige uma vasta equipa destinada a preparar as privatizações. Quer dizer, o Governo gasta à tripa fôrra... em regime de «jobs for the boys». Gasta os dinheiros públicos à grande e à francesa, com os boys e as girls. Este caso, no meu entendimento, configura tambem um esbanjamento de dinheiros públicos, sendo, portanto, passivel de ser levado a tribunal.



publicado por Evaristo Ferreira às 16:20 | link do post | comentar

3 comentários:
De Alfinho a 21 de Março de 2012 às 12:12
O grave não é o Governo rodear-se dos chamados "especialistas" mas sim o facto de muitos desses especialistas não terem experiência em qualquer sector. Li algures (provavelmente na torrente de mails que circulam com as publicações no DR ou no portal da "transparência) que muitos desses "especialistas" foram descobertos nas listas da JSD e da JC, com idades entre os 24 e os 28 anos (presumo que recém-licenciados).
Mas, note-se, não tenho nada contra serem dadas oportunidades aos jovens (ainda que só a alguns), mas um primeiro emprego não faz deles especialistas e é duvidoso o seu know how (salvo a douta militância). Por falar em know how, lembro-me agora de um ex-massagista recomendado pelo Paulo Portas para motorista pela sua elevada experiência que ainda não tinha carta de condução aquando da sua nomeação... E lembro-me agora da birra do Marco António quando soube que não tinha sido nomeado para qualquer cargo, a discursar violentamente sobre os quilómetros que havia percorrido em campanha, demitindo-se da comissão política e logo no dia seguinte é nomeado secretário de estado (eu sei, é com maiúsculas que se escreve). São tantos e flagrantes os casos de clientelismo que só isso dava um blogue.
Quanto a Assunção Cristas, o seu dinamismo esgotou-se na nova lei do arrendamento, aprovada pela maioria pro um Governo que nada vai fazer relativamente à habitação social. Cortam salários, cortam apoios, cortam investimento, aumentam os impostos e as retenções na fonte e dão ao privado meios para agravar mais ainda as já difíceis condições de vida dos cidadãos: diminuição de férias, alargamento do trabalho precário, incentivo ao trabalho temporário, eliminação de feriados, redução da retribuição do trabalho extraordinário, agravamento das condições de acesso a bens essenciais (habitação, energia, alimentação). A culpa? Já se sabe, é do PS e do Sócrates, que deve ter fugido de Paris para ir a Bruxelas fazer queixinhas de que o BPN vai ser vendido a preço de saldos.


De Evaristo Ferreira a 21 de Março de 2012 às 12:32
Caro Alfinho: Agradeço os seus comentários que muito enriquecem e ajudam á discussão dos problemas políticos, económicos e sociais, que se agravaram com o «Governo da Troika». Tambem quero felicitá-lo pelo acervo que a sua memória guarda sobre as medidas de austeridade que parecem não estar a resultar. E, a par do que foi dito, quero salientar a ironia queirozeana com que o Alfinho trata os actores políticos que estão em cena, a desempenhar o papel de «salvadores da Pátria».
Um abraço.


De Alfinho a 21 de Março de 2012 às 13:49
Infelizmente, caro Evaristo, não se trata de qualquer esforço de memória, mas sim de convívio com a realidade presente. A cada dia que passa o país perde e perdemos todos: a receita fiscal, mesmo com os aumentos, caiu 5,8% só em Fevereiro, os juros da dívida soberana não param de subir nos mercados, o desemprego já ultrapassa os 15%, os combustíveis aumentaram duas vezes no espaço de uma semana, a electricidade vai sofrer novo aumento de 2% e a banca anda a usar os capitais que lhe são injectados não para financiar a economia mas sim para tapar a falta de liquidez provocada não tanto pelos créditos que concederam mas por estarem comprometidos com milhares de milhões de euros de dívida estrangeira, situação em que se colocaram pela ganância do lucro fácil que todos consentem. É a asfixia actual, de vestes troikanas, que nos conduz a um ponto sem retorno (se é que alguma vez estivemos noutro lugar qualquer), nenhum esforço havendo para a redução da despesa pública, fiscalizar fundações e rever as PPP, para além da redução da TSU. Se é para ficar sem ar, que ao menos nos deixem respirar até lá.


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