Terça-feira, 21 de Dezembro de 2010

O Jornal de Negócios (JdeN) quiz antever o ano de 2011. Vai daí, lançou um desafio aos oráculos da nossa praça para que apresentassem "Ideias para dar sorte a Portugal". A "revelação" feita por cada um dos oráculos convidados pode ser consultada na edição de hoje do JdeN, que é gratuita. Vou citar apenas o oráculo de Bagão Félix, académico-economista-comentador-analista-agricultor nas horas vagas, etc. A biografia de Bagão Félix é extensa, variada, colorida, açambarcadora de títulos e medalhas. Não haverá companhia de seguros que não tenha sido presidida por Bagão Félix, que foi ministro, deputado, alto funcionário do Banco de Portugal e de bancos comerciais. A par de toda esta actividade, Bagão faz parte de dezenas de instituições de solidariedade social ligadas á igreja. Aos fins de semana dedica-se à agricultura de subsistência, mas trabalha a terra montado num tractor, e à porta de casa tem um aviso: cuidado com o Bagão. Como a vida lhe corre de feição, ainda arranja tempo para "palrar" na rádio e na televisão, a solo, ou acompanhado à desgarrada por outros "papagaios" da nossa praça.

Está feita a apresentação deste prospector dos amanhãs.

"Ideias para dar sorte a Portugal", segundo a previsão de Bagão Félix: (i) "o desafio da produtividade é o único factor com que podemos ganhar vantagens comparativas"; (ii) "os nossos recursos naturais, que são poucos mas dois são muito importantes: o mar e o clima"; (iii) "a agricultura, que tem de voltar a ser uma prioridade, em moldes mais racionais"; (iv) "finalmente, a demografia. Precisamos de ter mais nascimentos, [...] precisamos de 160 mil crianças por ano para manter as gerações".

Bagão Félix tem o discurso igual aos demais "papagaios". Fala de "produtividade", de forma vaga, como fazem todos os grandes comentadores. Quer uma agricultura em moldes racionais, sem explicar a ideia, e numa altura em que Mira Amaral vem defender a indústria, mais indústria para servir de motor às exportações e aumentar o emprego. Bagão destacou ainda o "sol e o clima", sem nada concretizar. E nós sabemos como o clima está alterado e pode transformar o estio num outono invernoso... Por fim, reclama maior produtividade em nascimentos... Bagão parece confundir produtividade económica, com produtividade erótica. "Precisamos de 160 mil bebés por ano", proclama o evangelista Bagão Félix. Penso que Bagão está a advogar o contrário de Malthus: os meios de subsistência disponíveis não se coadunam com excesso de população. Anda por aí meio-mundo a dizer que 3 milhões de portugueses passam fome, por isso, com o aumento de produtividade libidinosa, defendida por Bagão, vem ainda complicar mais a carência de alimentos. São mais uns milhares cujo destino é passar fome...

Sinceramente, estes problemas são demasiado sérios para serem tratados na praça pública por "papagaios" palradores. Deixemo-nos de jogos florais, de exercícios palavrosos, de bitaites sem música, de ideias fúteis. Haja bom senso.

 



publicado por Evaristo Ferreira às 18:08 | link do post | comentar

mais sobre mim
Abril 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
15
16
17
18
19
20

21
22
23
24
25
26
27

28
29
30


posts recentes

FIM DE CICLO...

A ENTREVISTA DE SÓCRATES

SÓCRATES NA RTP

PASSOS DE JOELHOS

DESCRÉDITO TOTAL

COM PAPAS E BOLOS...

É A ECONOMIA, ESTÚPIDO!

OS PROFETAS DOS "MERCADOS...

QUE SE LIXE O "PÚBLICO"

OS PAPAGAIOS DO COSTUME

arquivos

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

links
blogs SAPO
subscrever feeds