O Jornal de Negócios (JdeN) quiz antever o ano de 2011. Vai daí, lançou um desafio aos oráculos da nossa praça para que apresentassem "Ideias para dar sorte a Portugal". A "revelação" feita por cada um dos oráculos convidados pode ser consultada na edição de hoje do JdeN, que é gratuita. Vou citar apenas o oráculo de Bagão Félix, académico-economista-comentador-analista-agricultor nas horas vagas, etc. A biografia de Bagão Félix é extensa, variada, colorida, açambarcadora de títulos e medalhas. Não haverá companhia de seguros que não tenha sido presidida por Bagão Félix, que foi ministro, deputado, alto funcionário do Banco de Portugal e de bancos comerciais. A par de toda esta actividade, Bagão faz parte de dezenas de instituições de solidariedade social ligadas á igreja. Aos fins de semana dedica-se à agricultura de subsistência, mas trabalha a terra montado num tractor, e à porta de casa tem um aviso: cuidado com o Bagão. Como a vida lhe corre de feição, ainda arranja tempo para "palrar" na rádio e na televisão, a solo, ou acompanhado à desgarrada por outros "papagaios" da nossa praça.
Está feita a apresentação deste prospector dos amanhãs.
"Ideias para dar sorte a Portugal", segundo a previsão de Bagão Félix: (i) "o desafio da produtividade é o único factor com que podemos ganhar vantagens comparativas"; (ii) "os nossos recursos naturais, que são poucos mas dois são muito importantes: o mar e o clima"; (iii) "a agricultura, que tem de voltar a ser uma prioridade, em moldes mais racionais"; (iv) "finalmente, a demografia. Precisamos de ter mais nascimentos, [...] precisamos de 160 mil crianças por ano para manter as gerações".
Bagão Félix tem o discurso igual aos demais "papagaios". Fala de "produtividade", de forma vaga, como fazem todos os grandes comentadores. Quer uma agricultura em moldes racionais, sem explicar a ideia, e numa altura em que Mira Amaral vem defender a indústria, mais indústria para servir de motor às exportações e aumentar o emprego. Bagão destacou ainda o "sol e o clima", sem nada concretizar. E nós sabemos como o clima está alterado e pode transformar o estio num outono invernoso... Por fim, reclama maior produtividade em nascimentos... Bagão parece confundir produtividade económica, com produtividade erótica. "Precisamos de 160 mil bebés por ano", proclama o evangelista Bagão Félix. Penso que Bagão está a advogar o contrário de Malthus: os meios de subsistência disponíveis não se coadunam com excesso de população. Anda por aí meio-mundo a dizer que 3 milhões de portugueses passam fome, por isso, com o aumento de produtividade libidinosa, defendida por Bagão, vem ainda complicar mais a carência de alimentos. São mais uns milhares cujo destino é passar fome...
Sinceramente, estes problemas são demasiado sérios para serem tratados na praça pública por "papagaios" palradores. Deixemo-nos de jogos florais, de exercícios palavrosos, de bitaites sem música, de ideias fúteis. Haja bom senso.
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