Assistimos ontém a uma cena pungente desenrolada na Assembleia
da República. Fernando Nobre, ex-candidato à Presidência da República, émulo de Cavaco Silva, convidado por Passos Coelho para cabeça de lista por Lisboa às legislativas de 5 de Junho, tendo a promessa de que iria ser eleito para a Presidência da Assemleia da República, apresentou-se no hemicíclo, sózinho, ignorado, sem ninguém para o receber, perdido naquele labirinto de "profissionais da política", a quém ele sempre menosprezou, e agora ali estava ele, sem saber o que fazer. Era um homem só, ignorado pelos seus pares, à espera de ser socorrido... Foi uma cena patética, carregada de pungente falta de solidariedade e excesso de maquiavelismo político. Mais tarde, depois de preenchido o "cadastro", Nobre foi sujeito a votação do seus pares, sendo rejeitado na primeira votação. Insatisfeito com o resultado, Fernando Nobre aceitou ir a segundo escrutínio. Pior, ainda: foi novamente rejeitado, mas com menos um voto. Foi uma humilhação, para Nobre, e uma derrota para Passos Coelho. Todavia, este episódio, mostra que em política, nada está préviamente ganho. Os deputados deram uma lição política, optando pelo bom senso, pelo rigôr e pela competência na escolha para a hierarquia do segundo magistrado da Nação.
A derrota de Fernando Nobre tem muitas leituras, conviria a alguns,
mas, quem deve estar mais satisfeito com esta derrota, deve ser Cavaco Silva. Fernando Nobre, enquanto candidato à PR, atacou Cavaco Silva, exigiu-lhe esclarecimentos sobre a moradia da Coelha, sobre a venda de acções do BPN, mas Cavaco Silva fechou-se em copas, e acusou Fernando Nobre de lançar "suspeitas infundadas". No dia das eleições, Cavaco Silva dirigiu um ataque a todos aqueles que o "acusaram de falsidades", e com tal veemência o fez, que até se esqueceu de que, após ser eleito, era o "Presidente de todos os portugueses". Cavaco Silva elogiou os portugueses que o tinham apoiado, e demonizou os que contra ele votaram. Nesta hora, Cavaco Silva deve ser a pessoa mais feliz, com a derrota de Fernando Nobre. Já não teme por ser "susbstituido" por aquele que foi seu "inimigo", nem tem que lhe apertar a mão nas cerimonias protocolares. Por outro lado, Fernando Nobre (e todos os chamados independentes), não devem esquecer que, para fazer parte da classe política, não se pode rejeitar esta, nem tão pouco acusá-la por ser a causa de todas as "desgraças do país". Em Roma, sê romano.
A rejeição de Nobre, é tambem uma derrota do oráculo Marcelo Rebelo de Sousa. Tentando jogar com uma "dupla", Marcelo, na sua homilia dominical da TVI, explicou porque apostava (áquela hora) na eleição de Nobre. "É possivel: só o PSD tem 108 deputados; o resto virá do CDS/PP ou até do PS". Para Marcelo "eram favas contadas". O resultado prova que Marcelo está a perder qualidades como adivinho-mor.
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