O 25 de de Abril, este ano, foi celebrado na Presidência da República, em Belém, por vontade de Cavaco Silva. Foi uma festa celebrada em "casa" do mais alto magistrado da Nação, justamente por aquele que nunca mostrou grande entusiasmo pela Revolução dos Cravos. Mário Soares foi um combatente pela democracia; Ramalho Eanes fez parte do FMA, e, como Presidente da República, desempenhou um papel importante na reconciliação nacional, após o 25 de Novembro; Jorge Sampaio marcou a contestação ao regime durante a luta académica e viria aderir ao Partido Socialista, onde desempenhou vários cargos, foi autarca de Lisboa e chegou a Belém com grande aceitação dos eleitores portugueses. Cavaco Silva chegou a Belém pelos votos da direita, e pouco mais. Não esteve contra a guerra colonial, não participou na luta contra o salazarismo, não fez carreira de deputado. Foi chamado por Sá Carneiro, fez a travessia do deserto, e aparece no Congresso da Figueira, onde foi eleito para dirigir o PSD e levar os sociais-democratas ao poder. Sem tarimba nem uma cultura democrática, Cavaco Silva nunca conseguiu ser um dirigente capaz de falar com o "povão", com alma de líder, nem a grandeza de quem exerce o poder. Sempre mostrou timidez, nunca aceitou as críticas dos adversários, sempre foi um político de raíz ruralista. Humildade, franqueza, tolerância e receptividade, sempre faltaram a Cavaco Silva na sua relação com os outros. Ainda agora padece desses males: na noite da sua re-eleição, Cavaco Silva espadeirou contra todos os seus adversários, e, fora do "registo oficial", dirigiu-se àqueles que o elegeram, para atacar os seus adversários, num discurso cheio de rancôr, raiva e de intolerância, esquecendo-se de que, após a eleição, era o Presidente de todos os portugueses. Como se não bastasse isto, no dia da tomada de posse, perante a Assembleia da República, disse "cobras e lagartos" do Governo dirigido por José Sócrates... Nem uma palavra teve sobre o "tsunami" financeiro que atingiu Portugal e o mundo.. Para ele, o causador de todos os males (no país e na Europa), era o Governo de José Sócrates...
Depois de seis anos de ataques ao caracter do primeiro-ministro, Cavaco Silva, com o seu discurso na AR, afastou-se do Governo para se colocar ao lado daqueles que sempre faltaram ao respeito daquela Câmara e do próprio José Sócrates. Chegados aqui, voltemos aos apêlos de Belém ouvidos no dia 25 de Abril: "esqueçam as quezílias, os ataques pessoais, deixem de se acusar uns aos outros"... Pois é, mas quem é que semeou o ódio e a intolerância na vida política portuguesa, nestes últimos seis anos?...
Foi um bom começo de vida, esta festa, realizada em Belém. Emendou os erros cometidos pelo anfitrião... Para o conseguir, solicitou a presença dos tres "senadores" da República, pois só assim Cavaco Silva seria capaz de enfrentar "os portugueses que não votaram nele", mas que o respeitam. Esperemos que o bom-senso volte a reinar entre as instituições e os eleitos da República. O país precisa de todos, de unidade.
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