Quarta-feira, 31 de Agosto de 2011

São tres horas da tarde e ainda nada se sabe sobre as medidas

tomadas pelo Governo para "desengordurar" o Estado. Desta vez o ministro das Finanças não madrugou a explicar os cortes que aí vêm. Já não sei se o fará, ainda hoje, ou se vai fechar-se em copas. Procurei sintonizar a RDP1, mas a grande notícia na abertura do seu noticiário das 15,00 horas relacionava-se com o futebol... A RDP abriu em ambiente de "diarreia" futebolística, devido a Ricardo Carvalho não ir viajar com a selecção para Chipre... Notícias sobre o "corte nas gorduras do Estado", são tema secundário para a RDP. Seguem o "guião" do ministro da Propaganda: futebol, futebol para distrair o pagode. Este arrastar da situação, este mudismo sobre o "desengorduramento do Estado", começa a ser estranho, pouco transparente e muito embaraçoso  para o Governo de Passos Coelho. Depois da troika ter encontrado um buraco de 227 milhôes na ilhota do soba da Madeira, eis que agora foi encontrado mais um buraco de 273 milhões, tudo num total de 500 milhões de euros, que é o preço de um submarino encomendado à alemã Forrestal, pelo actual ministro dos Negócios  Estrangeiros, Paulo Portas, nos tempos em que era ministro da Defesa no Governo de Durão Barroso. 500 milhões equivale a 0,3% do PIB nacional. Sou levado a pensar, que Passos Coelho sempre foi conhecedor do descalabro das contas do soba da Madeira. Daí que tenha logo avançado com o corte no subsídio de Natal. Em política isto é maquiavelismo calculado. Estou para ver como vai decorrer a campanha eleitoral para as legislativas na Madeira, pois a oposição não pode esquecer a "colossal dívida" acumulada pelo soba da ilha, uma ilha com menos de 244.000 habitantes, desgovernada pelo dinossauro Jardim há mais de 33 anos...



publicado por Evaristo Ferreira às 15:04 | link do post | comentar

Terça-feira, 30 de Agosto de 2011

Há mais de ano e meio, já Pedro Passos Coelho andava a reclamar

um corte nas "gorduras do Estado". Até afirmava que tinha uma lista dos "cortes" a efectuar no aparelho de Estado. Volvidos mais de dois meses após a tomada de posse, continuamos a não saber onde vai o Governo de Passos Coelho cortar nas "gorduras do Estado". Sabemos sim, onde já fez cortes, no lado da receita. Subtraiu-nos metade do subsidio de Natal, aumentou o IVA no Gas e Electricidade, os transportes, as taxas moderadoras, etc. Finalmente vamos saber, amanhã, pela voz do ministro das Finanças, Carlos Gaspar, o quanto e aonde vai o Governo efectuar cortar nas "gorduras do Estado", um "corte colossal como nunca se fez neste país nos últimos cinquenta anos". As medidas estão sendo discutidas e serão aprovadas ainda esta tarde. Amanhã, Passos Coelho vai de viagem para encontros bilaterais com Zapatero, Merkel e Sarkozy, enquanto o "professoral" ministro Carlos Gaspar, anunciará ao país, quais as medidas dolorosas que vão ser executadas. Para este acto fúnebre, nada melhor do que um dia cinzento de verão, a prenunciar trovoada ou borrasca, como tem sido o dia de hoje.

 

Ao mesmo tempo que o Governo anuncia o "corte nas gorduras

do Estado", o ministro da Propaganda, Miguel Relvas, continua a criar "grupos de trabalho" e a aumentar o número de colaboradores externos, que já ascende a mais de 500 nomeações. Para a privatização da RTP foram nomeados "especialistas", amigos do PSD, incluindo-se neles o professor João Duque, do ISEG, que tanto se empenhou em chegar ao "pote" do Governo. Para a reconversão do AICEP, foi constituido um "grupo de especialistas" liderado por Jorge Braga de Macedo, ex-ministro de Cavaco Silva, e que ao tempo inventou a ideia do "oásis" lusitano. O Secretário Moedas, supervisiona um conjunto de "30 especialistas" para aconpanhar o programa da troika, cujos salários oscilam entre os 2500 e os 7700 euros. Vai ser criado o Conselho de Finanças, com "20 especialistas", como se não houvesse o Tribunal de Contas. Já se fala em mais um conjunto de "76 especialistas" para avaliar candidatos aos "cargos de chefia do Estado". A ministra da Lavoura, Assunção Cristas, vai nomear "especialistas" para acompanhar a extinção da Parque Expo, para reverter o Arco Ribeirinho do Tejo, etc. Como se vê, as nomeações de boys e girls, não pára. Embora se diga que nalguns casos vão trabalhar em regime pro bono, a verdade é que, assim, com tanta nomeação de "especialistas", a "gordura do Estado" vai continuar a subir. Aguardemos pelas novidades que o ministro das Finanças, Carlos Gaspar, tem para nos dar, amanhã de manhã.



publicado por Evaristo Ferreira às 16:16 | link do post | comentar

Segunda-feira, 29 de Agosto de 2011

Já foi largamente discutida a possibilidade de os "ricos pagarem a

crise", sem que, até ao momento, saibamos como vai o Governo proceder para taxar os ricos. Quando, no meio da discussão, parecia desenhar-se um consenso e uma fórmula fiscal para o Estado cobrar aos "ricos" deste país, a quota-parte que lhes cabe para resgatamos Portugal da crise em que se encontra, eis senão quando, aparece Cavaco Silva a dizer (por intermédio das televisões e não do Facebook, como se tornou habitual) que seria um disparate taxar os ricos... O Presidente Cavaco Silva prefere um imposto sobre heranças, doações e transmissões. Em sua opinião, os ricos não devem fazer sacrifícios, ainda que seja numa emergência nacional. Enfim. Mais valia que o Presidente estivesse calado, na sua torre de marfim. Por mim, sugeria o seguinte: esqueçam as taxas, as percentagens, os números. Os "ricos" deste país não são muitos, mas serão, concerteza, tão ou mais patriotas quanto o são aqueles que querem ir-lhes ao bolso e não sabem como o fazer... Nesta emergência, apelem aos "ricos" sim, para contribuirem para um "fundo de resgate nacional"-- na medida das suas posses e de acordo com a sua consciência. Estou certo que todos eles irão contribuir. Tudo o mais, só serve para o BE e o BCP alimentarem as suas acções de protesto, à boa maneira antiga, condenando os "ricos a pagarem a crise".

 

Atenção: o ministro da Propaganda, Miguel Relvas, que tambem é

pedreiro-livre e usa avental de maçon, continua empenhado em manobras de contra-informação, todas elas destinadas a desviar as atenções da opinião pública para fait-divers, justamente no momento em que o Governo se prepara para tomar "medidas que em Portugal não eram tomadas há mais de 50 anos". Vamos entrar em Setembro, o mês de todas as provações, de sacrificios enormes para os portugueses, e de execução de medidas exigidas pela troika. Não admira pois, que Miguel Relvas, o ministro da Propaganda de Passos Coelho, queira continuar com o caso das escutas Optimus, por forma a ocupar os telejornais diários com este assunto. Desejo, sinceramente, que o Parlamento não se perca neste labirinto, e esqueça a "saraivada" de cortes e recortes que este Governo nos vai impôr.

 

No sabado, António José Seguro esteve com jovens socialistas. No

domingo, esteve na Madeira. Fez discursos sem chama, sempre no mesmo tom de voz, e sem arrancar aplausos calorosos. Tozé Seguro gosta de fazer política "com elevação e cortesia", mas assim não vai longe. Todos os líderes que têm ido à Madeira, fazem o seu discurso em mangas de camisa, mas Seguro não larga o casaco (não quererá mostrar a sua obsidade?). Assim não vai lá, não consegue chegar a bom porto. E teve o azar com o DN de domingo, que relatou a rentrée do BE com Louçã, ignorando a intervenção de Seguro na Festa da Juventude...

 

 



publicado por Evaristo Ferreira às 14:55 | link do post | comentar

Sexta-feira, 26 de Agosto de 2011

Com o fim do período estival, tambem conhecido por silly season,

a máquina do PSD dá sinais de intranquilidade. Sente-se que alguma coisa anda no ar. O soba da Madeira reclama a presença de Passos Coelho no final da campanha eleitoral da ilhota. Este facto, por si só, vai gerar atritos e criar amuos na actual coligação, na medida em que, enquanto "São Pedro" estará ao lado de Jardim, "São Paulo" vai fazer tudo para atacar o dinossauro da Pérola do Atlântico. Por outro lado, o "período de graça" deste Governo está a chegar ao fim. Mas, apesar dos cortes e subida de impostos já efectuados, outro tanto ou mais está para ser implementado. O povo trabalhador, desempregado, com ou sem reforma, vai ser ainda mais penalizado. Os planos para a constestação na rua, começam a desenhar-se, nas centrais sindicais. Por agora, a economia dá sinais de profunda debilidade. É pois, neste quadro negro da nossa economia, que o actual Governo se vai apresentar na abertura dos trabalhos parlamentares. Daí que os ministros, secretários e deputados da actual coligação sintam um misto de impaciência e desconforto quanto à situação do país. Por exemplo, o ex-blasfemo Carlos Abreu Amorim, deputado neoliberal do PSD, numa entrevista publicada hoje no semanário do enSOLlarado arquitecto Saraiva, respondeu nestes termos ao entrevistador:  "Ainda é cedo para balanços. Não quero entrar numa ejaculação precoce".  Esta resposta é prova da incontinência verbal do deputado CAA, do nervosismo em que se encontra, pois a tensão, gera pressão arterial elevada, e isso provoca o colapso dos neurónios ou a "ejaculação precoce" (seja-me permitido este meu diagnóstico). A continuar assim, CAA corre o risco de ficar com graves lesões seminais. Paciência, australopitecos obesos há muitos, infelizmente.

Touro da raça Limousine, um robusto animal produtor de sémen...



publicado por Evaristo Ferreira às 15:02 | link do post | comentar

Quinta-feira, 25 de Agosto de 2011

Não há quem veja, oiça ou saiba de António José Seguro. Tal como

fez a equipa de Passos Coelho, o líder do PS devia encurtar as férias, para fazer frente a este Governo. O Tozé Seguro é a melhor apólice de seguro que podia ter calhado a Pedro Passos Coelho. Com Seguro, Coelho pode estar descansado e ausente, porque tudo corre de feição ao seu Governo, embora este navegue num oceano de águas encrespadas, mas onde, apesar de tudo, reina a calmaria geral, inclusivé na sua tripulação. É verdade que António José Seguro prometeu fazer uma "oposição elevada e com elegância", mas isso não é o mesmo que estar calado, ausente, escondido. Nesta altura apenas Kadafi tem o direito a estar escondido. O Tozé Seguro, se não quer ser a "apólice de seguro" de Passos Coelho, deve vir para o terreno, dizer o que pensa do momento político, desta crise em movimento. E senão, vejamos alguns dos casos políticos que precisavam ser rebatidos pelo Secretário-Geral do PS: (I) Imposto sobre os ricos para ajudar o país: Sim ou Não? (II) Défice inscrito na Constituição: Sim ou Não? (III) Eurobonds: Sim ou Não? (IV) Linha TGV: Que vai fazer o ministro Álvaro? (V) Líbia: Portugal já devia ter apoiado o CNT? (VI) Militares e polícias: houve permissão para aumentar o número de novos recrutas? (VII) Achamento de facturas num beco esconso do IDP: Quem tem razão? O ministro Relvas, o presidente do ACP ou o professor Luis Sardinha?

Estes são itens que preenchem a agenda do ministro da propaganda de Passos Coelho. Miguel Relvas tem feito insinuações que precisavam de resposta rápida e esclarecedora. Esta função cabe ao representante da oposição, cujo partido esteve no anterior Governo, e que é neste momento liderado por António José Seguro. Alguem sabe onde está Seguro? Alguem sabe por que razão está ausente, escondido ou com amnésia?



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Quarta-feira, 24 de Agosto de 2011

Carlos Moedas, o super-coordenador de trinta "especialistas" que

estão a zelar pelo cumprimento do memorando assinado com a troika, esteve ontem no Parlamento para dizer não sei o quê, sobre quê, nem para quê. Os deputados ficaram com dúvidas, sem resposta às suas perguntas, e eu tambem fiquei confuso com as explicações dadas pelo Secretário Moedas. Do discurso enovelado de Carlos Moedas, apenas guardo uma ideia, bem nítida, apresentada pelo "especialista" em Finanças. Refiro-me ao "triangulo" desenhado numa folha A-4, com que o Secretário Moedas pretendeu clarificar a sua ideia, uma ideia de "plano inclinado", que parte do "ponto A" para o "ponto B", mas que ele (Moedas) vai levar até ao "ponto C"... Portanto, Moedas vai "inclinar" ainda mais o balanço das contas, ou seja, espera "ir mais além da troika", no que toca a cortes e recortes. No final da apresentação argumentária feita por Carlos Moedas, fiquei com a sensação, já sentida, de que there's the kaos in the garden.  Estou convencido de que, Passos Coelho incumbiu o Moedas para falar sobre nada, dizendo pouco, e com rascunhos de troglodita experimentado em aulas de caverna. Um triangulo rectangulo, foi o resultado final... E, com isto, o chefe do Governo liberal, Pedro Passos Coelho, pode continuar escondido, a fazer não se sabe o quê, que o pagode nem dá pela sua ausência... É para não "desgastar" a sua imagem.



publicado por Evaristo Ferreira às 14:48 | link do post | comentar

Terça-feira, 23 de Agosto de 2011

Este Governo é composto por políticos, gestores, estrangeirados,

independentes e afins. Como didadão pergunto-me: quais serão os motivos que leva um gestor a abandonar a função que exerce, para ir desempenhar um cargo governamental, precário e mal pago? Hoje foram divulgados os rendimentos auferidos em 2010, entregues no Tribunal Constitucional, pelos ministros deste Governo. Por exemplo, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, declarou um rendimento de 846.000 euros... O que dá cerca de 2.320 euros diários, o equivalente a 4,8 vezes de SMN. Rendimento diário, se for anual equivale a mais de 1.744 salários mínimos.  José Aguiar Branco, ministro da Defesa, arrecadou em 2010, 423.000 euros, e a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, auferiu em 2010, 414.000 euros. O ministro dos Assuntos Parlamentares e Secretário-Geral do PSD, Miguel Relvas, facturou em 2010, 229.000 euros. Curiosamente, o político Paulo Portas, actual ministro dos Negócios Estrangeiros, ganhou apenas 51.000 euros. Se a memória não me falha, o vencimento de um ministro é de uns 5.700 euros. Como é que se pode interpretar esta divergência, entre o anterior e o actual vencimento de um ministro? Por exemplo, Paulo Macedo, no BCP (donde foi recrutado), ganhava em dois dias o equivalente ao ordenado de um mês, como ministro da Saúde! Como é possivel? Será que o BCP lhe continua a pagar o ordenado?... E que dizer de Aguiar Branco (423.000) e de Paula Teixeira da Cruz (414.000)? Como conseguem eles viver agora, com apenas 5.700 euros mensais?... Há aqui qualquer coisa que não está certa. Eu sei que os ministros têm carro, telemóvel, cartões de crédito, ajudas de custo. Mas tudo isso fica aquém do rendimento mensal que auferiam fora do Governo. Ou o exercício do poder, por si só, compensa? Espírito de sacrifício? Não acredito em estoicos servidores do Estado. O poder dá estatuto, acesso a diversos e vastos interesses ligados a negócios de Estado. Eu, como cidadão, gostava de ver esta questão devidamente esclarecida, com transparência, rigôr e isenção.



publicado por Evaristo Ferreira às 16:34 | link do post | comentar

Segunda-feira, 22 de Agosto de 2011

O Prof. Marcelo, ilustre pregador da TVI, onde dispõe de água-benta,

e sacristia própria para as suas eucaristias dominicais, deu-nos conta, na tarde de ontem, de um "temporal" que se abateu sobre Celorico de Basto. Pouco haveria a dizer, se apenas se tratasse de uma trovoada, mas o caso mostra que a influência do Prof. Marcelo sobre o clima, vai além dos seus dotes professorais. Ele consegue influenciar os acontecimentos, consegue criar milagres e provocar estados de alma na Natureza. O temporal abateu-se sobre Celerico de Basto, terra natal de Marcelo, justamente em dia de romaria, e na altura em que se realizava um espectáculo de variedades, em recinto de feira, e num planque improvisado. A Natureza, com a sua força, mobilizou-se contra aquela festa pagã, por intermédio de forte ventania e chuva torrencial, destruindo o palanque da música pimba. Houve feridos e mortos, e, portanto, havia necessidade de relatar o estranho acontecimento. E lá se apresentou o "repórter" Marcelo, pronto para fazer um "directo" pela TVI. Onde está Marcelo está o Diabo, perdão, onde está Marcelo pode estar o cáos, porque ele é agoirento e gosta de semear a confusão. À tarde, em Celorico, e à noite, em Queluz de Baixo... O Professor Marcelo é mais rápido do que a sua sombra. A análise que faz da política nacional, é manhosa, traiçoeira e côr de laranja.

 

À hora a que o Prof. Marcelo reportava o temporal em Celorico da

Beira, tambem chegavam notícias de Madrid, relatando um terrível "temporal" que se havia abatido sobre o local onde Beneditus XVI pregava aos jóvens. Embora seja considerado um "santo", e muito poderoso sobre a Terra, Beneditus XVI foi incapaz de superar as contrariedades da Natureza. O "santo" homem queria ler o discurso final, escrito numa folha A4, e o deus Eólo não lho permitia. Éólo soprava de todos os azimutes, revolteava a batina do "santo", salpicava-lhe a folha que tinha na mão, e nem os bispos à sua volta conseguiam parar a chuva e o vento que, apesar de muitos guarda-chuvas brancos, molharam todo o séquito papal. Ouvi dizer que ele (o mafarrico), tambem andou por lá, por Madrid, nestes dias de visita ecuménica, para irritar tudo e todos. Tambem é verdade que ninguem do séquito papal se lembrou de levar água-benta, para atirar ao mafarrico. Este gesto poderia pôr fim às provocações do dito, que, segundo dizem, não suporta o cheiro da água milagreira, com cheiro a oliveira.

Ainda estamos na silly season, não é verdade?



publicado por Evaristo Ferreira às 14:42 | link do post | comentar

Sexta-feira, 19 de Agosto de 2011

Em tempo de férias, permito-me recordar aqui velhas leituras.

"... sugeri a Jacinto que subíssemos à Basilica do Sacré-Coeur, em construção nos altos de Montmarte [Paris[. [...] Sob o céu cinzento, a cidade jazia toda cinzenta, como uma vasta e grossa camada de caliça e telha. [...] Aí estava pois a Cidade, augusta criação da Humanidade. [...] O homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. Vê, Jacinto. Na Cidade perdeu ele toda a força e beleza harmoniosa do seu corpo, e se tornou esse ser ressequido e escarnifrado ou obeso e afogago em unto, de ossos moles como trapos, de nervos trémulos como arames, com cangalhas, com chinós, com dentaduras de chumbo, sem sangue nem febra, sem viço, torto, corcunda -- esse ser em que Deus, espantado, mal pode reconhecer o seu esbelto e nobre Adão! Na Cidade findou a sua liberdade moral: cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência: pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar, [...] Mas o que a Cidade mais deteriora no homem é a Inteligência, porque ou lha arregimenta dentro da banalidade ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa e pairante camada de Ideias e Fórmulas que constitui a atmosfera mental das Cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas -- ou então, para se destacar na pardacenta e chata rotina e trepar ao frágil andaime da gloríola, inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade disforme que espante e detenha a multidão como um mostrengo numa feira. [...] Deste terraço, junto a esta rica Basílica consagrada ao Coração que amou o Pobre e por ele sangrou, bem avistamos nós o lôbrego casario onde a plebe se curva... [Na Cidade] o burguês triunfa, muito forte, todo endurecido no pecado -- e contra ele são impotentes os prantos dos Humanitários, os raciocínios dos Lógicos, as bombas dos anarquistas. Para amolecer tão duro granito só uma doçura divina. Eis pois a esperança da Terra novamente posta num Messias!... Um decerto desceu outrora dos grandes Céus: e, para mostrar bem que mandado trazia, penetrou mansamente no mundo pela porta de um curral. Mas a sua passagem entre os homens foi tão curta! [...] Esse adorável filho de Deus teve demasiada pressa em recolher a casa de seu Pai! E os homens a quem ele incumbira a continuação da sua obra [...] bem depressa esqueceram a lição da Montanha e do lago Tiberíade -- e eis que por seu turno revestem a púrpura, e são Bispos, e são Papas, e se aliam à opressão, e reinam com ela, e edificam a duração do seu reino sobre a miséria dos sem-pão e dos sem-lar!"

 

Este texto faz parte de "A Cidade e as Serras" de Eça de Queiroz, escrito no final do século XIX, quando a Basílica do Sacré-Couer estava em construção no monte de Montmartre, em Paris. O personagem Zé Fernandes explica a Jacinto o lado negro da vida nas grandes cidades, e, a partir daqui convencê-lo-á a viajar para Portugal, até Tormes, sua terra natal, onde Jacinto descobrirá a alegria de viver, em contacto com a vida rural e campestre.

As linhas finais deste texto, permito-me dize-lo, reforçam a ideia expressa no meu post de ontem sob o título "O Pastor Alemão".



publicado por Evaristo Ferreira às 12:13 | link do post | comentar

Quinta-feira, 18 de Agosto de 2011

O chefe de Estado do Vaticano, Beneditus XVI, está em Madrid

para uma visita de tres dias. É demasiado tempo para uma visita diplomática. Claro que a deslocação de Beneditus XVI a Madrid não tem como único objecto as relações bilaterais entre dois estados soberanos. O que Beneditus XVI tem em vista é o apelo ao "sistema de crenças" que ele representa. Espanha já foi o país mais católico da Europa, mas depois da queda do franquismo, as novas gerações optaram pelo afastamento das sacristias. O que verdadeiramente preocupa os espanhois, é o seu futuro incerto, é a crise financeira e conómica, são os 4 milhões de desempregados (21%, a maior taxa da UE). Ontem houve confrontos entre laicos e jovens arregimentados pelas organizações internacionais ligadas ao Vaticano. Nunca o "sistema de crenças" foi tão prejudicial ao entendimento entre os povos, como está a ser neste tempo de crise. Os "profetas", as organizações ligadas ao "negócio" da pregação tambem estão em crise, uma crise de adesão ao rebanho, pastoreado pelos "controleiros" da mente humana. As religiões criaram os deuses, para dividirem e controlarem o rebanho, com ameças de expulsão, excomunhão e outros castigos que só as mentes deformadas pelas crenças religiosas, podem temer. Nestes tempos de crise, que pode fazer Beneditus XVI pela Humanidade? O que é que o Vaticano (que funciona como qualquer multinacional financeira) fez nos últimos dois anos, para "salvar" os inocentes de castrástrofes, como as cheias ou o sismo no Paquistão, os crimes horrendos cometidos no Afeganistão e no Iraque? Nada. E agora, na Somália, que fez o Vaticano para aliviar a fome, a sede e a dôr dos somalis? Fez saber que lhes doou 50 mil euros... Uma ninharia, comparada com os milhões jogados e perdidos na especulação financeira de Wall Street e nos equemas de Madoff... Hipocrisia, cinismo, beatitude. Contra este fariseísmo, estou com os indignados espanhois (laicos) que se manifestaram na Puerta del Sol, protestando contra o "arraial do pastor alemão", no qual o governo espanhol vai gastar cerca de 30 milhões de euros.



publicado por Evaristo Ferreira às 12:29 | link do post | comentar | ver comentários (1)

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