No primeiro debate quinzenal entre o Governo de Passos Coelho
e a oposição de esquerda, toda a gente estava à espera do "combate mortal" entre o primeiro-ministro e o novo líder do PS, António José Seguro, mas nem um nem o outro subiram ao "ringue" para ganhar o troféu do "combate". Tudo se traduziu, afinal, numa troca de opiniões insonsas, que não serviram para "aquecer" o ambiente. Aliás, o Tó Zé Seguro já tinha dito que faria apenas uma "oposição responsável", e sempre com "elevação e elegância". Perante esta afirmação de Seguro, a fasquia do "combate" não iria subir, ficar-se-ia pelo meio da tabela. E foi o que aconteceu. Ouviu-se de tudo, desde salamaleques para aqui e para ali, até ao discurso entremeado de desculpas, sempre que havia que contestar o Governo. "Desculpe-me o senhor primeiro-ministro, mas...". "Desculpar-me-á o senhor primeiro-ministro, mas...". "Peço desculpa por discordar do senhor primeiro-ministro, mas...", etc. etc. Da parte de Passos Coelho há a assinalar as "cortesias" em excesso. Gastou parte do tempo nos entrementes: "Senhora Presidente da Assembleia da República, senhoras e senhores deputados, permitam-me...." . É sabido que Passos Coelho fala devagar, pensa devagar, procura o termo adequado, a palavra assertiva, coloca a sua voz de barítono -- e o tempo esvai-se, como água entre os dedos. Pela primeira vez na AR, assistimos à tolerância de tempo, concedido pela presidente Assunção Esteves ao primeiro-ministro -- previlégio que depois foi reclamado pela oposição. A "elevação e a elegância" usada por Tó Zé Seguro, aliadas ao discurso monocórdico e tecnicista de Passos Coelho, são uma grande seca, comparados com a frontalidade e a vivacidade de José Sócrates.
Neste momento estão em cena tres "novelas" políticas que devem
merecer a nossa atenção, pelo que se recomendam as cenas dos próximos capítulos. Temos a novela Canja de Galinha Dourada (CGD), com António Nogueira Leite no papel do bandido; a novela Serviços de Informação Estratosféricos e Dourados (SIED), com Jorge Silva Carvalho no papel do "espião" que trabalhava para o inimigo; a novela Morangos Escarlates, com a artista Manela Moura Guedes no papel de Mata Hari, e Bernardo Bairrão a desempenhar o papel do homem que nunca chegou a ser nomeado Secretário de Estado.
O primeiro-ministro Passos Coelho continua resguardado, assim
como Paulo Portas, que nesta altura anda lá por Brasília, a cuidar da diplomacia. O porta-voz deste Governo, continua a ser o super-ministro das Finanças, Vitor Gaspar, que tem estado sempre disponivel para responder à opinião pública, sobre as medidas tomadas ou a tomar pelo executivo de Passos Coelho. Ontem realizou-se o encontro entre os parceiros sociais. Amanhã haverá Conselho de Ministros, onde serão aprovadas medidas do programa da troika e do Governo. Depois do corte no subsídio de Natal e do aumento dos transportes em 15%, mais "apertos" serão decretados, com efeitos a breve prazo. A austeridade vai sentir-se de forma aguda, gerando anticorpos na sociedade portuguesa. Já sabemos o que nos espera. Basta olhar para a Grécia e a Irlanda.
Afinal o Ricardo Costa, director do Expresso, tinha razão para não
alterar nem uma linha no que havia escrito: os serviços de informação estratégica do Estado forneceram dados pessoais à Ongoing sobre Bernardo Bairrão, que havia sido indicado por Miguel Macedo para secretário do MAI. Ficamos a saber, pelo trabalho jornalistico do DN, de hoje, que Manuela Moura Guedes enviou uma SMS a Passos Coelho a informar sobre Bairrão. E mais uma vez se verifica que o primeiro-ministro não é assim tão duro como querem fazer-nos crer. Passos Coelho cedeu a Moura Guedes, retirando Bairrão da lista de secretários... e Miguel Macedo engoliu em seco. Depois há a "notícia", a "cacha" ou a "asneira" do Professor Marcelo, que "bufou" na TVI, aquilo que era segredo de negócios. No final de tudo isto, é de lamentar o que se passa com "espiões" e servidores do Estado, sempre que prescindem deste, em favor dos privados. Temos promiscuidade, oportunismo, traição, mercantilismo... Veja-se o que aconteceu em Inglaterra entre o News of the World, o governo, a polícia e os free-lancers da comunicação social. Os "mercados" não olham a meios para atingirem os seus fins.
TAXA SOCIAL ÚNICA : Vamos ver como o Governo vai resolver esta
questão, que consta do programa da troika. Uns recomendam corte de 10 a 12 por cento, mas apenas para empresas exportadoras. O pequeno comércio tambem quer beneficiar com este corte. A hotelaria e restauração, está em polvorosa. Tambem quer descontos, e quer que a questão do aumento do IVA seja ponderada, pois tornaria ainda menos competitiva a restauração nacional. Já ameçam com 200.000 despedimentos para os próximos dois anos.
Este Governo está em exercício pleno há 33 dias, mas já vai no
PEC-6. O PEC-5 destinava-se a corrigir um "desvio colossal". O PEC-6, anunciado ontem pelo ministro das Finanças, Vitor Gaspar, tem uma característica especial: destina-se a incluir os 12 mil milhões atribuidos pela troika à banca, mais a "acomodação" dos 35 mil milhões em garantias a prestar pelo Estado. E de PEC em PEC vai este Governo gerindo o país. Passos Coelho está fazendo o contrário de tudo aquilo que disse durante a campanha eleitoral. Rejeitou o PEC-4, para derrubar Sócrates, mas dizendo que era demais, governar com quatro PECs. Jurou nunca cortar o subsídio de Natal, mas mentiu a todos nós. Jurou nunca aumentar os impostos, mas mentiu a todos nós. Jurou equilibrar as contas do Estado, não pelo lado da receita, mas sim da "despesa do Estado", e mais uma vez mentiu a todos nós. Prometeu um "Governo de gente competente, isenta e trabalhadora", mas dos ministros pouco se ouve dizer. Quem está de plantão ao Governo, é Vitor Gaspar, que apara todas as jogadas e defende a "equipa" em todos os azimutes. Ele, que é um péssimo comunicador, frágil de palavra e miudinho nas minudências. Mas afinal, onde está Passos Coelho? Porque não aparece o primeiro-ministro para dar a cara pelas "trapalhadas" do seu Governo? E pelo "segundo" administrador da CGD, que está a ser apedrejado pelos críticos dos job for the boys, e que não se sabe o que vai fazer ele no banco público! Mas que, Vitor Gaspar teve de defender, dizendo que estava "muito orgulhoso" pela actual equipa de gestão da CGD. Coitado do super-ministro Vitor Gaspar, que está a fazer o papel do bombeiro do Governo. Até tem que justificar-se no caso dos jobs for the boys, logo ele, que é independente.
Quem apareceu ontem na AR foi o Secretário da Cultura, Francisco
José Viegas, tambem conhecido pelo "Papa-Almoços", devido à propaganda que em tempos fazia sobre tascos e tasquinhas nas colunas de um jornal. O Zé Viegas tinha um fato de verão, estilo Paulo Portas, e estava de pêra aparada, para esconder a gordura do queixal. Falou de modo fortuito, por meias palavras, para tratar de bailados... Disse que "os bailarinos reformados vão ser professores". É estranho, mas o Secretário transmontano pensa que isso é uma originalidade. Vamos ver qual é a opinião de Nuno Crato, ministro da Educação, que não me parece capaz de aceitar, que alguem "meta foice em seara alheia", ou seja, no seu ministério, e muito menos vinda pela mão de um Secretário.
Já há sinais da "mudança" apregoada por Pedro Passos Coelho...
Refiro-me à execução do programa da troika e, naturalmente, à execução do modelo neoliberal aplicado à governação do país. Isto nada tem a ver com o "arranque" da economia portuguesa, que continua a afundar-se, até finais de 2012, pelo menos. Refiro-me à ebulição ministerial que, finalmente, começa a arrancar, depois de um mês inteiro a aquecer os motores. O ministro que tem estado mais ativo é Carlos Gaspar, o super-ministro das Finanças. Quanto ao ministro Álvaro, da economia, ainda pouco se conhece do seu trabalho. Apareceu na FIL, para recomendar o uso da marca Made in Portugal em todas as peças de artesanto fabricadas pelos nossos artesãos... O "calmo" ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, em vilegiatura estival, passou por Luanda, foi a Maputo e agora vai ao Brasil. A "guerra" da governação passa-lhe ao lado. Essa questão é para a super-ministra da Lavoura, Assunção Cristas, que ordenou aos seus funcionários a utilização do estilo casual, sem gravata nem espartilhos. Já o ministro Mota Soares, o da Vespa, acomodou-se ao BMW do ministério da Solidariedade Social, e, embora nada se saiba, parece que está a "cortar" em tudo o que é "subsídios" e "apoios sociais". No meio desta engrenagem, apareceu agora o ministro da Saúde, Paulo Macedo, que estava a banhos, mas resolveu adiar as férias para mais tarde, a fim de poder tratar-nos da saúde... Medidas de fundo: entrega da gestão dos hospitais públicos ao "mercado da saúde", para cuidarem dos doentes do SNS.
Este Governo é apoiado por uma larga maioria de instituições.
Este Governo é o "ai Jesus" do Presidente Cavaco Silva, é louvado pelo Professor Martelo, pelos "comentadores" de serviço nas tevês, jornais, rádios e fóruns. Até Dom Policarpo, apoia as medidas tomadas por este Governo, pois afirmou que o corte no subsídio de Natal é justo... Portanto, o primeiro-ministro Passos Coelho, para além do apoio do grande capital, dos empresários e dos neoliberais, tem o apoio da Igreja e do Presidente da República -- que sempre foi "isento, imparcial e homem de palavra". Como disse o claravidente Professor Marcelo, aquando do downgrade feito pela Moddy's à República Portuguesa, "Portugal foi utilizado para chegar à Grécia", mas agora que a Grécia foi salva, com o alargamento do prazo da dívida e com juros mais baixos, na ordem dos 3,5% -- e que, indirectamente beneficiou Portugal -- já diz que tudo se conjuga para o Governo de Passos Coelho se manter em exercício até ao fim desta legislatura. Assim seja. O que falta saber é: com que sacrifícios dos portugueses! E conseguirá ele pôr a economia a crescer? Vamos ver, pois "há quatro anos, começou nos EUA, a crise financeira que ainda hoje nos atormenta" -- confessou Marques Mendes. Bravo! Finalmente os "senadores" do PSD admitem que houve uma "crise internacional", que afectou Portugal e a Europa!
Em tempo de tanta austeridade, a gente lê ouve e fica atordoado:
os tribunais tributários têm 1.149 processos pendentes, no montante de 6,2 mil milhões de euros, o equivalente a 3,6% do PIB, à espera que os Tribunais reabram, após as férias judiciais, que terminam a 31 de Agosto... A gente lê uma notícia destas e não consegue compreender a razão desta enormidade colossal, desta ineficácia da Justiça, deste desmando cívico, onde uns fogem ao pagamento de milhões e outros não recebem o dinheiro que lhes faz falta para investir, pagar salários e encargos bancários. Eu sou um leigo neste tipo de querelas judiciais. Mas gostava de saber do que se trata. De que estamos a falar? De dívidas ao fisco? De dívidas por transações comerciais? De montantes de IVA por vendas intercomunitárias, que não foram pagos ao Estado? De valores não pagos a terceiros, por falência ou qualquer outro expediente usado para não pagar? Eu leio a notícia e custa-me a acreditar no que vejo: "1.149 processos de dívidas ao fisco superiores a 1 milhão de euros". Trata-se, no meu entendimento, de dívidas ao Estado... Mas como é possivel o Governo sacar-nos metade do subsídio de Natal, sem que nada faça para exigir dos Juizes produtividade, e obrigue os Tribunais a cobrar aquilo que é de todos nós? Trata-se de 6.200 milhões de euros, 3,6% do PIB, o suficiente para amortizar o défice das contas do Estado em 2011. Os deputados e o Governo trabalham em Agosto, mas os Tribunais estão de férias entre 15 de Julho e 31 de Agosto... dando oportunidade para os relapsos se fortalecerem e minarem o Estado.
Como se esperava, a Moody's atirou a Grécia para o caixote do lixo.
Considerou o acordo feito com o Eurogrupo, uma espécie de default encapotado. Portanto as tres agência de rating americanas continuam a lavrar o seu diktat à Europa... mas aos EUA, ficam-se pelos ameaços. Porém, nos EUA existem mais agências de notação, e pelo menos uma, a EGAN-JONES Rating, baixou a notação dos States de AAA para AA+ . É interessante verificar o comportamento das outras três agências, antes e depois do Lheman Brothers falir, com a EGAN-JONES, que disse o contrário deste banco, da Islãndia, e da ENRON e da WorldCom, em 2001. Vale a pena dar uma vista de olhos, aqui. Warran Buffet, o maior especulador de activos bolsistas a nível global, detém 30% da Moody's. Isto diz tudo sobre a "independência" das agências de notação americanas.
A Cimeira do Eurogrupo realizada ontem em Bruxelas, conseguiu,
finalmente, mostrar os dentes às feras que andavam a atacar a moeda única. Os inimigos do euro, os especuladores das taxas de câmbio, como seja o senhor George Soros -- que em 1993 ganhou 1.000 milhões, de uma assentada, contra a libra britânica -- estão avisados de que, a partir de agora, "quem se meter (a especular) com o euro", será duramente castigado. Com as medidas de ontem, a Grécia fica a salvo da falência, e tem agora mais tempo para endireitar as suas contas públicas. O governo de Atenas vai ter mais dinheiro, juros mais baixos e um calendário mais longo para liquidar os fundos do resgate. Convém dizer que, não foi a Grécia que levou a Cimeira do Eurogrupo a tomar as medidas ontém anunciadas, as quais há muito deviam ter sido assumidas. O alarme veio dos "mercados" que começaram a "rondar as portas" da terceira e da quarte economia da Zona Euro, ou seja, da Itália e da Espanha. Este facto é que deixou a Alemanha e a França em sobressalto. Indirectamente, as medidas ontem tomadas, vêm beneficiar a Irlanda e Portugal. Pedro Passos Coelho, sem nada fazer, está a ser protegido pelos deuses do Olimpo.
Os fait-divers que o Governo vai produzindo, tais como o caso do
"desvio colossal", dos "desengravatados da lavoura" ou das "viajens em económica", têm alimentado a blogosfera e os fóruns de dicussão, dias a fio, deixando para segundo plano outras questões que merecem ser analisadas e criticadas, como seja o "imposto extraordinário", o "aumento brutal de 15% nos transportes públicos", a "nomeação de mais 4 administradores para a CGD", a falta de "cortes nos custos intermédios", etc., etc. Não esqueçamos que o Governo tem uma "máquina de propaganda" bem oleada, destinada a desviar as atenções do essencial, e a produzir pequenos alarmes com vista a distrair os incautos. O "facto real" ontem ocorrido com o ministro Álvaro, que se prontificou a receber os indignados da TNC, deveria merecer uma análise crítica. Desde quando é que um "super-ministro" se pode dar ao luxo de gastar o seu tempo, ouvindo as queixas, aliás justas, de trabalhadores que estão em lítigio com a administração de uma empresa de camionagem? Desde quando é que um governante neoliberal, interfere nos negócios de uma empresa privada, quando esta está a negociar o "trespasse" do seu negócio?... Não será um exagero, ser o "super-ministro" a tratar dum problema laboral? Então o ministério não tem Secretários de Estado, ou funcionários com competência para ouvir os trabalhadores? Ou o ministro da economia quer continuar a "fazer escola" dizendo aos trabalhadores deste país para o tratarem por Álvaro, "apenas por Álvaro"?
O terrorismo continua a atacar onde menos se espera. Hoje aconteceu em
Oslo, Noruega, flajelando as instalações do Governo. Até agora, 2 mortos.
Pedro Passos Coelho rejeitou o PEC-4 por estar farto de dar apoio
ao Governo de José Sócrates, e alegando que este não conseguia controlar as contas do Estado, pelo que -- dizia -- a melhor solução para o país era dar a palavra ao povo, convovando eleições. Passos Coelho ganhou a aposta, e as eleições. Tres meses depois do chumbo do PEC-4, e tendo um programa da troika, feito na base do PEC-4, Passos Coelho vem agora dizer que em Agosto vai preparar o PEC-5... Ainda o Governo não cumpriu um trimestre de actividade, e vamos já caminhar para o PEC-5. Depois do propalado "desvio colossal", que tanta tinta fez correr, Passos Coelho vem agora anunciar o PEC-5 para "acomodar" os 12.000 milhões destinados à recapitalização da banca portuguesa. Isto é apenas um jogo de rins. Não saberemos o que "vai na cabeça" do primeiro-ministro. Depois de cancelar a nomeação de um Secretário de Estado, só porque uma pseudo-jornalista lhe bufou intrigas por SMS, já nada de sério e de transparente há a esperar de Passos Coelho. Bem prega frei Tomás...
O Governo neo-liberal, conduzido por Passos Coelho, continua à
procura dos remos para zarpar com o barco (o país) do cais onde encalhou. Enquanto não se faz ao mar alto, o Governo vai carregando o barco com meios de sobrevivência e alguns "comissários" de bordo. Hoje ficámos a saber que o enjoado Nogueira Leite, vai ser nomeado para o cargo de vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos. Mais um "tacho" para um dos boys que andou a meter na "cabeça" de Passos Coelho as receitas neo-liberais para "mudar" Portugal. Se o anafado Nogueira Leite preencher o lugar de vice, durante 19 meses, poderá ficar a receber 18.000 euros de pensão... Tal como aconteceu com o ora "banqueiro" Mira Amaral... 18.000 euros de pensão por 19 meses de "trabalho" na CGD. Esta gente conhece bem as agruras da crise... Embora o barco do Governo esteja "encalhado" no cais, o ministro Álvaro anunciou hoje um aumento de 15% nos transportes públicos... Justamente quando a CML tinha em curso a campanha "Vá de transportes Públicos".
O PCP reclamou pela presença do ministro da Saúde, Paulo Macedo,
na Assembleia da República para explicar as medidas já tomadas no seu ministério. O PSD respondeu à boa maneira dos Governos com maioria: rejeitou a audição. Lá vão os dias em que a Santa Aliança governava, contra o Governo de José Sócrates. Agora o PCP e o BE começam a contar, a contar, e vêem tudo cada vez mais sinistro.
O Executivo de Passos Coelho aprovou hoje a redução de 15% nas
"estruturas orgânicas e cargos dirigentes" do Estado, sem indicar qual é o montante dos gastos suprimidos. Dias antes, as "estruturas do Governo" tinham-se alargado nalguns sectores, mas ninguem contestou as nomeações dos novos "comissários". O Secretário Moedas, que supervisiona as contas da troika, vai contratar 30 técnicos para o assessorarem na missão. Na CGD, o colectivo da Administração passou de 7 para 11 elementos, para acomodar mais 4 "comissários", ou seja, quatro boys que ajudaram à eleição de Passos Coelho. Para fiscalizar as PPP, o Governo vai nomear mais um punhado de "comissários". Para assessorar os Secretários de Estado, segue-se uma lista de "comissários" ligados ao Largo do Caldas e à São Caetano à Lapa. Nas secretarias ministeriais, não tardará a verificar-se a substituição de "comissários", como é tradição partidária. Soma e segue.
O "poderoso Secretário Moedas", que teve a benção de Catroga,
é o" fiscal" para as medidas a tomar pelo Governo, implementadas pela troika. No entanto, os deputados que constituem a Comissão Parlamentar de Acompanhamento (CPA) da troika, não querem o Moedas, querem ter "relações directas" com a troika, que vem a Portugal de 3 em 3 meses para controlar as contas. Entre Moedas (Secretário) e Vitor Gaspar (ministro), a CPA prefere falar com a troika, para poder "influenciar" os seus membros. Toda esta trapalhada tem a ver com o que consta nos documentos da troika. Pelas Finanças está indicado o ministro Vitor Gaspar, e pela Economia, o ministro Álvaro. Estes seriam os "interlocutores previligiados", mas ao aparecer o Moedas, por indicação do Governo, a oposição não aceita intermediários. Quer mesmo ter aceso aos elementos da troika. Tudo leva a crer que Passos Coelho vai ceder. Quém vai perder "peso" e prestígio no Governo vai ser o Secretário de Estado Carlos Moedas. E lá vem à memória a "má moeda"...
Na Europa a chanceler Angela Merkel, a dois dias da cimeira sobre
o futuro da Grécia, vai dizendo que "o problema do euro não se resolve numa reunião", prenunciando mais um fracasso quanto aos resultados da próxima Cimeira. Por cá, Cavaco Silva apela a "um esforço duro, capaz de resolver os problemas da Zona Euro", diligência esta nunca vista nem ouvida durante o Governo de Sócrates. quando Cavaco Silva assobiava para o lado e fingia que nada era com ele. Agora esforça-se por fazer ouvir-se lá fora, convencido de que pode salvar a Nação. Mas o que Cavaco Silva diz não tem efeitos "lá fora". Afiançaram-nos, durante a campanha eleitoral, que um Governo de maioria PSD/CDS, iria credibilizar o país, colocando os juros da dívida abaixo dos 7%, e fazendo com que os "mercados acalmassem", assim como as agências de rating... É o que temos visto: os juros da dívida a 3 anos atingiram hoje os 20%, a Moody's desceu o rating da República para "junk" (lixo), levando, por arrasto, a banca, as PPP e as empresas públicas. Para piorar mais a vida dos portugueses, o primeiro-ministro Passos Coelho mete-nos a mão ao bolso e leva-mos metade do subsídio de Natal... E não vemos melhoras, não vemos decisões nem uma réstea de esperança.
No meio de toda esta pasmaceira, o Presidente da República, que
não é alheio a compadrios, nomeou ontem a Velha Senhora (Manuela Ferreira Leite), como chanceler do Conselho das Ordens Nacionais. Ferreira Leite já havia sido condecorada por Cavaco Silva, com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, no dia 10 de Junho. É caso para perguntar: que missões relevantes desempenhou Ferreira Leite ao serviço do seu país? Foi ministra das Finanças, fez parte dos governos de Cavaco Silva, fez-se notar durante a campanha eleitoral de Cavaco à Presidência. Tudo isto é pouco relevante. Mas em política a lealdade, o apoio e a consonância de ideias são pontos que contam para se poder ser medalhado. Quanto ao posto de "Chanceler" devo dizer que me causa alguns arrepios, e confusão de espírito. Sempre que oiço falar de "chanceler" vem-me à memória não só a senhora Merkel, mas tambem todo o germanismo que a palavra encerra.
Neste fim de semana, numa deslocação a Caminha, para inaugurar
o Museu dedicado a Sidónio Pais, Cavaco Silva lamentou-se aos jornalistas por o euro ter um valor tão elevado, afirmando que uma moeda forte, como é o euro, prejudica as exportações. Para Cavaco Silva continua a haver "boa" e "má moeda". Todos temos presente quando Cavaco Silva, em 2004, falou da "má moeda" para atacar o então primeiro-ministro Santana Lopes, que era um moiro de porrada, por parte dos seus irmãos mais velhos, quando ainda o "menino guerreiro" estava na incubadora. Pois agora temos Cavaco Silva a dizer que o euro é um obstáculo para as nossas exportações. Há momentos na vida de um professor de economia e finanças, que em vez de falar, melhor faria se estivesse calado. O Professor Cavaco Silva faria melhor figura se nos explicasse como se forma o valor de uma moeda, quando esta é criada. Tambem seria sábio, se nos dissesse como se pode desvalorizar o euro. Uma moeda fraca dificulta as exportações, mas encarece as importações (petróleo, energia, matérias primas, etc). O Presidente Cavaco Silva está comprometido com este Governo, que é da sua côr política. Esse desvelo é evidente, mas coloca o Presidente numa situação de duvidosa imparcialidade. Dá a ideia de que é Presidente de apenas 51% dos eleitores... E acaba sempre por se sair mal nas suas prelecções.
Quando Portas (o dos submarinos e dos Pandur) era ministro da
Defesa, azedou a camaradagem existente entre os militares, quando desenterrou o cadáver de Maggiolo Gouveia, em terras de Timor, e o homenageou numa cerimónia fúnebre, contra vontade daqueles que o tinham como traidor à Pátria, civis e militares. Paulo Portas, não tendo sido militar, assumiu-se como um Condestável moderno, e homenageou o militar que se passou para o lado do inimigo. Vem-me à memória este episódio, o facto de Cavaco Silva, que foi oficial do exército e defensor da "saga militar ultramarina", se deslocar ao norte do país, acompanhado pelo Secretário da Cultura, José Viegas, para inaugurar o Museu de Sidónio Pais. Que raio de de ideia. É sabido que Sidónio Pais foi um militar, um ditador, populista e demagogo, que acabou por morrer na Estação do Rossio, pelas balas de um qualquer anarquista. Daí até ser homenageado pelo PR, vai uma grande distância. Mas Cavaco Silva foi homenagear o ditador... sem que ninguem falasse da Sopa do Sidónio.
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