Esta "gente honrada, cumpridora da palavra dada" transformou as nossas
vidas numa pasmaceira, num sofrimento, num empobrecimento atroz. Para além disso, transformaram a política numa banalidade de conceitos, sem princípios morais nem ética nos compromissos. Basta dizer que esta gente, em 2010, autodesignava-se de "gente honrada, cumpridora da palavra dada", por oposição a José Sócrates e ao seu Governo, a quem chamavam de "teimoso" e "mentiroso". Agora, com esta gente, nunca aqueles epítetos se aplicaram tambem a Passos Coelho e ao seu governo. Prometeram-nos uma coisa, e estão a fazer outra. Mentiram com todos os dentes que têm, e estão agora a ficar "carecas e com cabelos brancos". É um sinal de vingança que a vida prega aos que vivem em contra-mão (elas não matam, mas moiem, diz a sabedoria popular). Outro sinal, é o medo que esta gente tem em enfrentar o povo. Cavaco Silva deixou de correr o país em Roteiros, para se mostrar e mais tarde recordar. Agora diz que "faz mais pelo país estando calado" do que se falasse todos os dias... Apareceu ontem, num lugar fechado, a falar para os telejornais, com um sorriso forçado, amarelo e sem alma. Cavaco Silva não sente o frémito do povo, nem os problemas dos reformados ou dos desempregados. Mas sempre foi dizendo, para Passos Coelho ouvir, que "as vozes que se fizeram ouvir -- na manif do dia 2 de Março -- não podem deixar de ser escutadas pelo Governo". Só que, à mesma hora, Passos Coelho afirmava na Assembleia da República -- para Cavaco Silva ouvir -- que "no dia em que um Governo decidir em função dos protestos da rua demite-se da sua responsabilidade". Esta "gente honrada" (des)entende-se assim, com tacadas em campo dos telejornais. Para esquecer o recado de Cavaco Silva, Passos Coelho viajou hoje para um périplo pelos países com mais peso político na Zonaeuro, a fim de pedir mais tempo para Portugal pagar a dívida aos seus credores. Finalmente Passos Coelho aceita, a contra-gosto, pedir mais tempo para pagar a dívida. Mas sem ofender, sem lesar, nem desagradar aos "mercados", instituições que merecem, da parte de Passos Coelho e o seu Governo, a mais absoluta submissão e a total fidelidade. Penso eu, por tudo isto, que Passos Coelho terá levada na mala de viagem um livro para se excitar, durante o périplo, e que dá pelo nome O Caminho da Servidão, escrito pelo liberal austríaco Friedrich von Hayek em 1944. Passos Coelho diz ter lido, enquanto jovém, A Fenomenologia do Ser, de Jean Paul Sartre, uma obra que não consta na bibliografia do autor. Esta confissão terá sido feita para impressionar os jornalistas que o ouviam, já qque Passos Coelho é um fanático do neoliberalismo, de Hayek, de Milton Friedman, e dos "mercados". Não é persona de fenomenologias nem tão pouco de filosofias sobre a condição humana. Passos Coelho é apenas um economista, um fã dos "mercados", um profeta do empobrecimento, um alucinado dos cortes na despesa social, um robô ao serviço do grande capital -- que nos explora aqui e depois leva os lucros para a Holanda, para não pagar impostos ao Estado Português... E por aqui me fico.
Enquanto Paulo Portas anda a fazer turismo lá pela Taprobana, ontem o Governo esteve
na Assembleia da República a debate com a oposição, mas representado sómente pelo
primeiro-ministro e pelo inseparável e "morto" ministro-adjunto Miguel Relvas, mostrando,
assim, que este Governo está desconchavado e não corresponde aos anseios do país.
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