Quinta-feira, 25 de Outubro de 2012

Ontém estive na Casa da Democracia, ou seja, na Assembleia da República.

Há muito tempo que andava à procura de uma ocasião propícia para assistir a

um debate político na Assembleia da República. Aconteceu ontem, graças ao convite que me foi dirigido por dois amigos, ligados à indústria da Restauração. E devo confessar que fiquei desiludido. Esperava eu que o acesso às galerias do Plenário fosse facilitado a qualquer cidadão interessado na política, mas não é assim. Pelo contrário, o acesso é muito dificultado, ou por que estamos em "estado de emergência social", ou por que os "serviços secretos" têm indícios de possiveis atentados políticos. Quando os serviços de segurança mandaram avançar o pessoal, já o debate tinha começado. A entrada é feita pelo lado nascente da AR, por uma porta onde estavamos nós e passavam deputados, secretárias e pessoal dos serviços da AR. Uma confusão terrivel. Havia polícias, muitos polícias, que davam instruções, e logo vinha outro que dizia o contrário daquilo que nos havia sido dito. Depois de passarmos a porta de entrada, tivemos que passar, um a um, por uma porta de scaner, um detector de metais. Antes disso, foi-nos pedido para colocarmos num cestinho, as chaves, as moedas, o telemóvel e os documentos... Tudo isto me fez lembrar o pós-11 de Setembro. Depois de passarmos no scaner e de recuperarmos os nossos bens, aguardamos, à espera que o grupo se reunisse ao longo da escadaria de acesso ao res-do-chão. De seguida, subimos a pé uma escadaria em zigue-zague, o equivalente a quatro ou cinco andares, até chegarmos ao piso que dava acesso ao Plenário, o qual já havia começado à mais de meia hora. Naquele piso, fomos divididos em lotes, uns para a direita outros para a esquerda, a fim de acedermos às galerias. O meu grupo, antes de entrar, foi avisado de que não podíamos bater palmas, assobiar, gritar ou mostrar qualquer cartaz. Alguem que desobedecesse, seria desalojado e posto na rua. O agente da polícia falou com determinação e por forma a que todos ouvissem, incluindo os agentes em serviço de apoio. Polícia, era coisa que não faltava. Quando entrámos na galeria, debatia-se os cortes à agência de notícias LUSA. Da parte do Governo, frente aos deputados, estava Miguel Relvas, acompanhado da secretária de Estado Teresa Morais. Nunca trocaram uma palavra. Pareciam desconhecidos, inimigos, e sem vínculos partidários. Relvas esforçava-se por "estar à altura" do seu papel, e Teresa Morais ora falava ao telemóvel ora sacudia o penteado. Pareceu-me que Teresa Morais estava incomodada com a presença do"doutor" de aviário. No final da discussão, o ministro Relvas respondeu com ligeireza aos deputados e retirou-se, sem arrumar a cadeira nem se despedir ou acompanhar a colega Teresa Morais. Já há muito que passava das quatro da tarde, quando chegou a vez do debate sobre o "Iva da Restauração". Mais uma vez o PS apresentou uma resolução para baixar para 13% o Iva na Restauração. O debate foi duro, incisivo, apelativo, mas a "maioria de direita" não quis complicar a vida ao ministro das Finanças. Disse que, "o país está numa emergência" e, por isso os sacrifícios são para todos. O PS respondeu, dizendo que a receita do Iva seria desastrosa, que o desemprego iria subir, que milhares de pequenas empresas iriam encerrar... "Vocês vão ser os coveiros da Restauração" -- rematou a deputada do PS, Hortense Martins, que acabara de apresentar a proposta para redução do IVA. Esta mesma frase acabaria por ser o mote de grande parte da assistência, que no final se indignara, acusando o PSD e o CDS de "fascistas", "coveiros da Restauração"... "Tenham vergonha!". Um grupo de indignados, resistiu, ali, a protestar, e tiveram mesmo que ser retirados das galerias pelos agentes da polícia. Toda esta gente havia aceite o convite da AHRESP para irem à AR, enlutados, apoiar a Resolução apresentada pelo PS, destinada a taxar o IVA da Restauração a 13%. E vieram, de todos os cantos do país. Uma nota final: durante o debate desta proposta, o Governo não se fez representar pelo ministro da Economia, nem sequer por um Secretário de Estado, ou um simples assessor...   O lugar do Governo esteve sempre vazio.

O conjunto arquitectónico da Assembleia da República é imponente, nobre e belo.

Inspira dignidade, justiça, solidariedade e respeito pelas instituições do regime...

Falta saber se todos os nossos deputados, que frequentam aquela casa, merecem

tamanha honra. Conheço alguns que não têm craveira intelectual para andar por ali.

 

 

 



publicado por Evaristo Ferreira às 14:43 | link do post | comentar

1 comentário:
De Santos Costa a 25 de Outubro de 2012 às 19:55
Houve um jornalismo que, há uns anitos atrás, publicou um livro sobre essa Casa e intulou-o "Recordações da Casa dos Mortos", de carlos Coutinho (um livro de capa verde que eu tenho por aí, algures, parodiando sobre um título do escritor russo Fiódor Dostoiévski.
Nem sei como tiveste pachorra para aguentar aquilo, uma espécie de "túmulo" da democracia, porque funciona "todos por um" e não "um por todos".
A Assembleia da república é uma Casa digna, que merce respeito; pena que alguns dos seus membros não se dêem a ele e a façam desrespeitar.
Abraço
Fernando


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