Em Agosto de 2011 o governo da Coligação PSD/CDS-PP, dirigido por
Passos Coelho [com a muleta de Paulo Portas], estava na boa graça de alguns portugueses e na expectativa de outros tantos. Era o tempo em que culpavam Sócrates pelo "colapso" da economia, quando prometiam governar com "rigor e exigência", e quando se apelidavam de "gente honrada, cumpridora da palavra dada". Passado um ano, o país está como está, sem futuro à vista, e com a economia e as finanças de pantanas. Passado um ano, os portugueses estão mais pobres, com 15,4% de desemprego, e a economia a afundar-se devido ao "colossal" corte no consumo interno. Esta "gente honrada" cavou fundo, foi "além da Troika", e conduziu o país para a miséria. Agora, vêm dizer-nos que, afinal, o Programa da Troika falhou os objectivos "devido à crise internacional". Antes de chegarem ao "pote", dziam eles que a crise era devida, em exclusivo, à ineficácia do governo de Sócrates. Não tinha a ver com mais nada, apenas com a política de Sócrates... Agora, estes incompetentes, ajudados pelos neoliberais, vêm desculpar-se com a Troika -- quando foram eles que cavaram ainda mais fundo, indo "além da Troika".
Passos Coelho sabe que está a pisar o risco, que já está para além do limite
consentido pelo povo português. Não admira, portanto, que esteja a temer uma convulsão social no país. Ao constactar agora o insucesso do seu Governo, Passos Coelho começa a recuar. Paulo Macedo, ministro da Saúde, recuou no caso dos médicos; Nuno Crato, ministro da Educação, recuou no caso dos professores com horário zero; Aguiar Branco, ministro da Defesa, recuou no caso das promoções dos militares; e Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, recuou quando aceitou algumas das reivindicações dos polícias. Até agora, só ainda não recuou Vitor Gaspar, o homem do Erário Público.
A coisa começa a tremer. O discurso de Passos Coelho está cada vez mais
destrambelhado (talvez por efeito do caso "doutor" Relvas?). Passos Coelho sabe que as coisas estão em efervescência. Antes de ir a banhos, esteve na unidade de treinos "anti-motim" da nossa polícia. Foi avaliar a motivação e a capacidade de intervenção das forças policiais. Após esta visita (sem farda, mas de boné), Passos Coelho seguiu para Manta Rota, descansado. Terá ficado com a convicção de que, em caso de manifestações populares, sempre poderá contar com a polícia de choque. Mas nem com a polícia do seu lado, Passos Coelho e o PSD, estão descansados. Começam a ficar, todos eles, assustados. Prova desse temor, é o cancelamento da festa do Pontal, onde o PSD marcava a rentrée política. O PSD, ao temer "manifestações populares" contra o primeiro-ministro e o Governo, deixa o Calçadão da Quarteira e vai reunir, com um punhado de militantes, no salão Aquashow Park Hotel. Com esta "reforma estrutural" da rentrée política, o PSD e os seus dirigentes começam a afastar-se, cada vez mais, do povo português.
Vêm aí tempos interessantes.
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