A União Europeia, nos últimos anos, não tem sido uma "união de países", como
pretende mostrar o nome que lhe deu corpo. Tem sido, sim, uma desunião de países, onde cada um "puxa a brasa à sua sardinha", e esqueceu, por completo, os valores da solidariedade e da equidade. Tudo isto por causa da crise financeira internacional, que afectou profundamente a economia dos países membros da UE, fez o desemprego subir para números alarmantes, e acabou com o longo ciclo de crescimento económico da Europa ocidental. O modelo inacabado do "Governo Económico", que deveria gerir a Zona Euro, tambem não foi além da criação da moeda única e da instituição do limite de 60% para a dívida pública e de 3% para o défice de cada um dos países do Euro. Por tudo isto, não admira pois, que nestes dias de grave crise financeira, económica e social, a UE não consiga conciliar os interesses divergentes de cada membro, agravando, assim, ainda mais, as dificuldades na acção política da UE. Um dia fala a Comisssão, no dia seguinte fala Merkel e Sarkozy, noutro dia fala o Presidente Van Rompuy, depois o director do BCE, para logo falar o presidente do Bundsbank alemão, a negar o que disse Trichet. A cacofonia é tanta, que até o primeiro-ministro britânico, David Cameron, que nada tem a ver com o euro, começou ontem a dar conselhos aos seus pares europeus sobre o modo como estes deveriam "salvar o euro"... Depois foi repreendido por Sarkozy, com ironia.
Por cá, o presidente Cavaco Silva reuniu ontem o Conselho de Estado para ouvir
os membros falar sobre a crise do país. Passos Coelho adiantou-se, e disse que as medidas de austeridade são absolutamente necessárias para resgatar o país. Na mesma data, um dia antes da discussão do OE na AR, José Seguro veio queixar-se da falta de diálogo, por parte do PSD, numa altura em que se pede "unidade" para a aprovação do OE. Passos Coelho defende que o corte do subsídio de Férias e de Natal na Função Pública e nos Pensionistas, não vai atingir os trabalhadores privados, "porque isso não seria cortar na despesa do Estado". Dias depois a CIP aproveita para fazer lóbi, defendendo o não pagamento daqueles subsídios no sector privado. O Professor Marcelo, que é Conselheiro de Estado, disse que "o Presidente andou mal, ao criticar o Governo", mas ontem terá votado ao lado daqueles que alinharam com Cavaco Silva. Marques Mendes [Ganda Nóia], tambem Conselheiro de Estado, andou a perorar na TVI, para quem o quiz ouvir, que a austeridade deveria ser para toda a gente, mas ontem terá votado ao lado do Professor Marcelo, no sentido de apoiar Passos Coelho. Alguns daqueles que votaram contra o PEC-4 -- para apearem José Sócrates -- torcem agora a orelha. Todos quantos andaram na rua, acompanhados por gente grada do PSD, nas manifestações contra Sócrates... estão a sofrer. Não o dizem, mas é evidente que "passaram de cavalo para burro". Foram os professores, os funcionários públicos, os militares, os polícias, os magistrados. Toda esta gente está agora no Inferno. Calada, e a gemer em silêncio... até agora.
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